quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Sobre a tragédia da boate Kiss e o caráter do povo brasileiro

“Interessante observar o que a cultura do brasileiro médio reza: nada é errado até que dê errado.
As pessoas desrespeitam as leis de trânsito, enganam seus cônjuges, roubam no imposto de renda, subornam e vivem como se a maioria das leis não se aplicassem a elas, mas são as primeiras a apontar o dedo quando alguém, que faz as mesmas coisas que elas, comete o erro sacro de deixar que dê errado.
Num país que leva o clássico ditado popular ‘Vergonha é roubar e não poder carregar’ ao pé da letra, onde estaria a indignação se o vocalista da banda tivesse tido êxito em sua performance e nada acontecesse? Quem levantaria a voz para o absurdo de um show pirotécnico num ambiente como aquele? Quem protestaria ao entrar no bar e constatar que o mesmo não possuía saídas de emergência suficientes?
Porém, como nada é errado até que dê errado, ninguém diz nada, nem reclama de nada, pois todos querem ter o mesmo direito de fazer o errado sem serem importunados pelos outros.
A ironia está no fato de que quando dá errado, e sempre, inevitavelmente, um dia, dará errado, percebemos todas as nossas mazelas reveladas na falha do outro e rapidamente julgamos e condenamos, aqueles que acreditamos serem os culpados, com uma fúria e ira incompatíveis com nossas próprias práticas.

Cabe agora uma reflexão cultural.
Quem somos, por que somos e o que queremos ser?
Um povo que chora o evitável ou uma nação que evita o mal?

Tenham todos, na medida do possível, uma ótima semana.
Deus seja!”

Texto de autoria de Fábio Sampaio, publicado em seu perfil no Facebook (www.facebook.com/fabiosampaio) em 28/01/2013.